Maringá, goleiro do Arema, time dono do estádio, diz ter ficado por cinco ou seis horas esperando no vestiário: "Pessoas mortas como animais"

Dono do estádio onde aconteceu a tragédia que matou pelo menos 174 pessoas no último sábado, o Arema, clube da Indonésia, tem em seu elenco um goleiro brasileiro. Maringá, de 32 anos e com passagens por Gama e Mogi Mirim, falou ao ge sobre os momentos de pânico que viveu no local.

Ele contou que o fim de jogo caminhava para a normalidade, com o time cumprimentando os torcedores mesmo após a derrota por 3 a 2 no clássico contra o Persebaya Surabaya. Até o momento em que percebeu um grupo avançando em sua direção.

- Foi uma cena lamentável. Depois do jogo, como nós temos o hábito de cumprimentar os torcedores, ficamos alguns minutos no campo ainda. Fizemos isso. Logo após vimos que estavam invadindo. Policiais pediram que a gente se retirasse e fosse até o vestiário. E a gente saiu normalmente caminhando, só que a invasão foi tão grande que os policiais não conseguiram conter. Se você reparar no vídeo, eu sou o último a sair. Quando estou saindo, veio um grupo de mais ou menos umas oito pessoas e me agarrou. Eu já não conseguia sair. Aí eu temi.

O vestiário do Arema serviu como refúgio para jogadores e membros da comissão técnica, que permaneceram por horas. Com o barulho e poucas informações, o goleiro brasileiro disse que temeu pela vida.

- Apareceu um policial que teve confronto com os torcedores, e eu consegui escapar deles e correr para o vestiário. Depois que nós entramos, aconteceu a selvageria. Eles invadiram, os policiais tentaram conter. Não conseguiram, eram poucos policiais para tanta gente. Então eles mataram ou pisotearam dois policiais que vieram a falecer depois. Aí a revolta dos policiais foi grande e começaram a lançar bomba. E daí começou a selvageria.

A gente não sabia de nada, ficou no vestiário por cinco ou seis horas. Só se ouviam gritos, barulho de bomba e ninguém sabia informar nada. A gente temia muito pela vida dentro do vestiário. A gente pensava: "Vão invadir aqui e matar todos que estão aqui dentro"
— Maringá, goleiro do Arema
De repente trouxeram pessoas que já estavam agonizando por inalar a fumaça de gás lacrimogêneo. Chegaram a óbito dentro do vestiário. Quando eu vi aquilo eu desesperei. Falei: "Meu Deus, vou perder minha vida num jogo de futebol"
— Maringá, goleiro do Arema
- Ninguém sabia dizer nada, pediam calma. Pessoas chorando e só sabíamos os números de mortos. "Faleceram 50, 60". Pensei que ia virar uma guerra sem fim e ia atingir a nós lá dentro. Veio exército, blindados e a guerra campal continuava. Depois as coisas foram se acalmando, conseguimos sair do estádio umas 4 horas da manhã. Quando saímos vimos o desastre no campo, fora do campo. Lamentável, nunca tinha presenciado uma coisa dessas na minha vida. Pessoas mortas como animais. E o número só aumenta, tem muitas pessoas nos hospitais que estão por um fio também. Estamos sem cabeça nenhuma para jogar futebol, com medo. A Fifa tem que tomar uma providência - completou.










Maringá disse que a relação do time com a torcida sempre foi tranquila, e que o episódio passou de todos os limites.

- A relação nossa com a torcida era supertranquila, boa. Estou aqui há dois anos. No ano passado lutamos pelo título, infelizmente não conseguimos. Esse ano fomos campeões de uma copa importante aqui. Começamos a liga não tão bem, mas também não tão mal. Meio de tabela, nono colocado. Mas acontece que esse jogo é um dérbi. Sempre há confusão nesse jogo. Só que nunca tanto quanto dessa vez. Foi fora do normal. Esperam muito desse jogo, e perdemos em casa. Mas ultrapassaram o limite. Isso foi um desrespeito ao ser humano. A Fifa tem que tomar providência para nunca mais se repetir em lugar nenhum do mundo.